quarta-feira, 24 de agosto de 2016

Pode demonstrar sim!!!


Dizem por aí que a Cultura do Desinteresse é o câncer da nossa geração e eu tenho que concordar. Eu esbarro em tanta gente interessante, alegre, trabalhadora, guerreira que parece murchar e perder toda a confiança em si, quando começa a gostar de uma pessoa. Não sabe como agir, se deve ligar ou chamar para sair, se pode dizer que está com saudade e o principal, não sabe se deve demonstrar que gosta de verdade de alguém.

Não crie expectativas, provavelmente não vai dar certo. Não ligue no dia seguinte, não mande mensagem de bom dia, a pessoa vai se achar demais, vai ver que você está caidinho por ela e vai perder o interesse. Homem não gosta de mulheres boazinhas, gostam daquelas que pisam, que são grossas, que não mostram interesse algum, são dessas que eles vão correr atrás. Se ele ligar no dia seguinte, cuidado pode ser daqueles caras grudentos, românticozinhos.

Ta aí, nossa Cultura do Desinteresse. Não se interessar ou fingir não estar interessada é a onda do momento. Se interessar, demonstrar afeto, na nossa geração, parece ser sinônimo de fraqueza, um erro brutal no guia das paqueras. E quem é que quer ter um fraco ao seu lado, não é mesmo?!. E aí, fica nesse jogo interminável, nessa queda de braço sem fim de quem aguenta mais, de quem finge mais, de quem esconde mais, por puro medo. E quem é o fraco agora?.

Parem de ter medo de demonstrar, o mundo precisa de pessoas corajosas. E coragem, meu bem, é não ter medo de chamar aquela garota que pega o elevador toda manhã com você para tomar um café. Coragem, é mandar uma mensagem de "Bom dia, adorei ter te conhecido" para aquele carinha que fez de tudo para que a noite de vocês fosse especial. Coragem, é ligar para ela no dia seguinte e dizer que quer sair hoje, amanhã e depois. Coragem, é convidar aquele amigo do trabalho para pegar um cineminha mais tarde.

Coragem é fazer o que o coração ta pedindo, sem pensar duas vezes, é se jogar de cabeça. Então pode mandar áudio de cinco minutos sim, pode ligar assim que chegar em casa só porque sentiu vontade de falar um pouquinho mais, aparecer com alguns amigos e fazer uma serenata na minha janela de madrugada, dançar sem ritmo nenhum só para não me deixar sozinha na pista de dança, chorar assistindo aquela comédia romântica. Pode pedir um, dois, três, quatro beijos e porque não segurar minha mão bem forte, liga para me desejar bom dia, boa tarde, boa noite. 

Deixa seus olhos brilharem quando encontrar com os meus, me puxa e me abraça apertado porque demonstrar é para os fortes e a vida passa rápido demais para perdermos oportunidades, a vida passa rápido demais para vivermos num eterno faz de contas e se preocupar com que os outros pensam. E quando você finalmente perceber isso, pode ser tarde demais para correr atrás, para consertar as coisas. E nesse jogo, perde na verdade, quem por medo ou receio deixou de Amar, deixou de dar ou receber Amor.

Já imaginou como o seu vizinho seria, como o padeiro seria, como seu porteiro seria, como a mulher da vendinha seria, como sua melhora amiga seria, como seu chefe seria, como o segurança da festa seria, como todo mundo seria num mundo em que demonstrar Amor fosse mais importante que fingir não senti-lo??. 


quarta-feira, 10 de agosto de 2016

Amor Amigo


E estavam os dois ali sentados na sala, de frente para a televisão, tentando focar no jogo das meninas, sorrindo meio sem graças, conversas lembrando nossa adolescência, os caminhos percorridos até ali. Tentei olhar algumas vezes com mais atenção, tentando saber o que eu tinha perdido, qual detalhe eu deixei passar despercebido que não me dei conta que já tava ali estampado naquele olhar, que irradiava aquele sorriso no rosto dele.

Ele contava todas as aventuras pelo que ele passou e eu sorria, não conseguia não sorrir ouvindo a voz dele. Foi desmiuçando ali toda a vida dele, tudo que perdi, que não estava perto, que nunca imaginaria que ele tivesse passado. E eu ali, tentando decifrar o que tinha nos levado aquela noite, aquele sofá. Ele continuava a falar empolgado, do emprego que tanto gostava, das corridas em lugares inimagináveis, em ter se desdobrado em mil para chegar numa cidadezinha que não estava no mapa.

Os gritos empolgados do locutor fizeram que eu mudasse minha atenção para um quase gol, ele se levantou e perguntou se eu queria algo. Não deu tempo de responder, quando dei por mim ele tava ali, me beijando, um beijo tão carinhoso, com tanto desejo, parecia esperar por aquilo a séculos e mesmo assim não apressou o momento, não intensificou nada, estava ali dando o melhor de si, com calma, parecendo aproveitar cada centímetro da minha boca.

E o tempo parou, não conseguia pensar em nada, a cabeça não funcionava, a cada toque minha mente se perdia. Até que a gente se olhou, confusos, uma confusão boa não posso negar, tantos anos nos falando, nos cumprimentando, nos divertindo, jogando, curtindo as fotos um do outro, comentando, ajudando, incentivando e nunca, em nenhum momento passou pela minha cabeça que a boca dele encontraria a minha.

E quando ele sussurrou que eu não tinha noção há quanto tempo ele queria que isso tivesse acontecido fiquei mais perdida ainda. E mil perguntas estavam ali, na minha cara, e ele só sorriu, abaixou os olhos e constatou que eu não tinha mesmo, noção alguma do que ele falava. E veio outro beijo, mais intenso, com mais sede para afirmar as palavras dele. 

E eu fiquei ali, boba, pensando como a vida é engraçada, como dá uma reviravolta maluca e esfrega na nossa cara aquela pessoa que sempre esteve ali e você nunca enxergou de verdade, a pessoa que você pedia tanto para encontrar, para mudar seus dias, para segurar sua mão, para te abraçar forte, tava ali ao seu lado, o tempo todo.