quarta-feira, 10 de agosto de 2016

Amor Amigo


E estavam os dois ali sentados na sala, de frente para a televisão, tentando focar no jogo das meninas, sorrindo meio sem graças, conversas lembrando nossa adolescência, os caminhos percorridos até ali. Tentei olhar algumas vezes com mais atenção, tentando saber o que eu tinha perdido, qual detalhe eu deixei passar despercebido que não me dei conta que já tava ali estampado naquele olhar, que irradiava aquele sorriso no rosto dele.

Ele contava todas as aventuras pelo que ele passou e eu sorria, não conseguia não sorrir ouvindo a voz dele. Foi desmiuçando ali toda a vida dele, tudo que perdi, que não estava perto, que nunca imaginaria que ele tivesse passado. E eu ali, tentando decifrar o que tinha nos levado aquela noite, aquele sofá. Ele continuava a falar empolgado, do emprego que tanto gostava, das corridas em lugares inimagináveis, em ter se desdobrado em mil para chegar numa cidadezinha que não estava no mapa.

Os gritos empolgados do locutor fizeram que eu mudasse minha atenção para um quase gol, ele se levantou e perguntou se eu queria algo. Não deu tempo de responder, quando dei por mim ele tava ali, me beijando, um beijo tão carinhoso, com tanto desejo, parecia esperar por aquilo a séculos e mesmo assim não apressou o momento, não intensificou nada, estava ali dando o melhor de si, com calma, parecendo aproveitar cada centímetro da minha boca.

E o tempo parou, não conseguia pensar em nada, a cabeça não funcionava, a cada toque minha mente se perdia. Até que a gente se olhou, confusos, uma confusão boa não posso negar, tantos anos nos falando, nos cumprimentando, nos divertindo, jogando, curtindo as fotos um do outro, comentando, ajudando, incentivando e nunca, em nenhum momento passou pela minha cabeça que a boca dele encontraria a minha.

E quando ele sussurrou que eu não tinha noção há quanto tempo ele queria que isso tivesse acontecido fiquei mais perdida ainda. E mil perguntas estavam ali, na minha cara, e ele só sorriu, abaixou os olhos e constatou que eu não tinha mesmo, noção alguma do que ele falava. E veio outro beijo, mais intenso, com mais sede para afirmar as palavras dele. 

E eu fiquei ali, boba, pensando como a vida é engraçada, como dá uma reviravolta maluca e esfrega na nossa cara aquela pessoa que sempre esteve ali e você nunca enxergou de verdade, a pessoa que você pedia tanto para encontrar, para mudar seus dias, para segurar sua mão, para te abraçar forte, tava ali ao seu lado, o tempo todo.


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