quarta-feira, 18 de janeiro de 2017

Ela queria começar a viver


E ela se sentiu cansada, fechou os olhos e tentou se concentrar, mas era um cansaço enorme, na alma, o que acabava se refletindo na mente, no corpo. Quis por um momento não estar mais ali, queria fugir mas não sabia para onde ir. Queria gritar, mas o que os outros iriam achar dessa reação desmedida?. Então fechou os olhos novamente e respirou fundo, mais uma vez e mais uma vez, abriu os olhos e não via nada, só um enorme vazio. E tentou segurar o choro, mas não conseguiu e desabou ali, na frente de todos, sem o menor pudor, chorava e soluçava e chorava mais.

As pessoas a olhavam e não entendiam, algumas paravam para saber se estava tudo bem. É evidente que não está tudo bem, mas ela assentia com a cabeça e mostrava um sorrisinho e voltava a chorar em seguida, não conseguia mais segurar. Ela segurou a vida inteira, ela assentiu e sorriu a vida inteira para todos, se sentia perdida, não sabia mais porque sorria, não sentia mais muita coisa e resolveu parar, ali.  

Foi para casa perdida em pensamentos, tentando entender, tentando se conhecer, saber o que havia perdido nesse tempo todo. E se deu conta que sempre foi o porto seguro de todos, mas que não tinha nenhum porto seguro esperando por ela, se deu conta que estava rodeada por pessoas vazias, perdidas, tristes, que se agarravam a ela como uma âncora e ela estava afundando, no mesmo lugar, a muito tempo e se sentiu sem forças mais uma vez.

Se abraçou ao seu travesseiro, precisava encontrar uma maneira de sair daquilo tudo, já estava na hora de assumir sua própria vida e deixar que os outros assumissem suas vidas também. Queria sorrisos verdadeiros, que saíssem sem esforço, queria deixar a dor e angústia que sentia para trás, queria começar a viver, a ver a vida colorida como aparecia nos contos que lia, um amor que assistia nas comédias românticas com direito a todos os dramas, mas que no final tudo se ajeitasse.

E foi mudando aos poucos, comprou uma bicicleta e começou a ir todas as tardes andar no parque ao lado de sua casa, resolveu fazer uma mini hortinha em casa e ficou surpresa ao ver que levava jeito com a terra, comprou um livro de receitas e se aventurava em fazer um prato novo por semana e viu que com isso não levava tanto jeito assim, mas não desanimou. Chamou um táxi, sentou num Pub e ouviu o cover da sua banda favorita tocar e cantou junto todas as músicas sem se preocupar ao desafinar. Comprou passagens para aquele lugar que sempre quis conhecer e conversou e conheceu pessoas incríveis.

Caminhava apressada para não perder o metrô e acabou esbarrando em alguém deixando o livro que acabara de comprar cair no chão, um livro indicado por uma grande amiga e a tempos queria ler, e ao se abaixar viu que a pessoa abaixou junto para ajudar. E olhou nos olhos dele, daquele cara que sem jeito se desculpava e imediatamente veio a sua mente as comédias românticas que assistira, aquele momento poderia ter sido tirado de uma delas.

_ Desculpa, prazer meu nome é Bruno.

_ Júlia, meu nome é Júlia.

Pegou o livro, sorriu pela primeira vez sem nenhum esforço, sem querer agradar, sorriu porque veio a vontade de sorrir daquilo tudo, se afastou e entrou no vagão correndo, confiando no destino e que dessa vez só entraria na sua vida coisas e pessoas boas. 



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