quarta-feira, 22 de fevereiro de 2017

Vamos tomar um café?


Júlia se arrependera de marcar um encontro ás oito horas da manhã assim que o celular despertou e ela levou um susto com a música que estava alta demais. Esfregou os olhos, olhou as horas e só queria mais cinco minutinhos debaixo daquele edredom. O que estava pensando? Oito horas da manhã e nem sabia se Ele de fato estaria lá mesmo. Ela não sabia se lá no fundo, esperava que Ele desmarcasse para ela descansar um pouquinho mais ou se era só uma forma de se proteger da decepção caso realmente acontecesse.

Entrou embaixo do chuveiro e tentou se lembrar do último encontro decente que tivera e para a sua surpresa não conseguiu. Ela estava trabalhando tanto naqueles últimos meses, se dedicando tanto a alcançar o que queria para o seu futuro que esqueceu um pouco do presente. Tinha conversado com uma amiga na noite anterior sobre o café despretensioso de hoje e logo veio o conselho, que por sinal vinha recebendo muito ultimamente.

_ Júlia, sem expectativas tá bom? Deixa rolar...

_ Sem expectativas, deixar rolar... Entendi.

E riu, as duas riram, porque apesar de sempre se aconselharem a não ter nenhuma expectativa a danada sempre vem e fica ali a espreita, esperando o momento certo para atacar. E elas sabiam que uma hora ou outra ela vinha e dava o bote. Como é que não se cria expectativas de qualquer coisa que você vai fazer na sua vida? A gente cria expectativa até com o pão do padeiro. 

Chegou no lugar combinado e pegou o celular para ligar e saber se Ele já estava chegando. Olhou para frente e Ele estava lá, sentado numa mesinha com um sorriso no rosto e um livro nas mãos. Ela parou a sua frente e aqueles olhos verdes sorriam ainda mais, levantou, se apresentou e a abraçou forte, daqueles abraços gostosos que fazem até valer a pena sair da cama tão cedo.

E começou a falar de sua vida e porque tinha ido parar ali, em outra cidade, longe dos pais e amigos, falava astutamente de como chegara sem nada, nem mesmo uma casa para morar, só com o apoio dos pais, pelos quais demonstrava sentir um carinho enorme, dava para sentir só de como ele falava. Lembrou do livro que estava em suas mãos, disse que lembrou dela e o entregou explicando porque ele achava que ela iria gostar do livro, que ganhou de uma pessoa que conheceu numa garage sale e que o fez prometer que não ficaria com os livros, mas que os passaria para frente assim que acabasse de ler. 

Ela observava cada pequeno detalhe enquanto ele falava. As mãos que não paravam de gesticular, o levantar da sobrancelha toda vez que ele olhava para ver se ela entendia o que ele estava falando, os sorrisos sem graças após cada assunto, o gosto peculiar pelo bolo de chocolate e morango ás oito da manhã, a forma educada de tratar as pessoas em volta. Até que ele parou e a olhou e sorriu e ela sentiu o golpe certeiro e desleal da velha expectativa.

Levantaram e foram caminhando lado a lado e ela pensava em como tinha sido tudo muito leve, em nenhum momento se sentiu desconfortável com Ele. Se despediram com outro abraço, mais forte ainda, e foi cada um para o seu lado. E ela ficou perdida, não tinha ideia do que esperar de tudo aquilo, não conseguiu decifrá-lo em nenhum momento. 

Chegou no trabalho, sentou em sua mesa e resolveu não pensar naquele encontro, sem expectativas, sem expectativas falava em sua mente. Até que o celular apitou na sua frente e viu o nome dele na tela. E começou a sorrir quando leu que ele esperava vê-la novamente e mesmo que ela não quisesse ia ser obrigada porque tinha que devolver o livro. E ela entendeu o que ele tinha feito e sorriu. E a danada da expectativa? tava lá batendo na porta outra vez.



    

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